11 agosto 2010

O menino encantado - Parte 3





Ele tamborilou a bola de capotão que pertenceu ao seu avô com todos os dedos da mão direita. Triste, um olhar sofrido tomou-lhe os olhos. A bola caiu de suas mãos rolando pelo chão de areia, ele a perseguiu com a vista e imaginou duas rodas, um aro, dois pedais, um guidom e um selim. 

Repentinamente seus pés pedalavam uma bicicleta azul com aros amarelos e selim grafitado de girassóis. Mas eram de outros olhos o sentimento de felicidade estampado nos seus.

Ele se sentou na calçada com a bola de capotão no colo, os dois cotovelos nos joelhos, o queixo nas palmas das mãos e trouxe os seus olhos sofridos de volta. Aos seus olhos vieram lágrimas e a tristeza de sempre.

 - Hei! Você está inundando o meu caminho.

Sem virar-se para trás, respondeu rispidamente:


- Pode parar, seu bobo. Você não me engana de novo.

- Como de novo se eu não te conheço?

- Tá bom! Você não me conhece, não conhece o seu irmão.

- Há! Há! Há! Se eu sou uma formiga e você um menino, me explica como podemos ser irmãos.

 - Formiga?!?!?!?!?!

Quando o menino olhou para baixo, uma formiga sorridente com as antenas vibrando de emoção lhe disse: Oi! 

Ainda que assustado, não se impressionou como da outra vez. Usando as costas da mão para enxugar as lágrimas, o menino logo lhe contou o motivo de tanta tristeza.

- Foi isso? Simples de resolver! Vá lá dentro, peça perdão aos seus pais e, principalmente, ao seu irmão. Quando voltar não se esqueça de trazer a bola de capotão do seu avô.

- Como você sabe que é dele?

- Essa é outra história que não me cabe contar.

- Posso trazer, também, a bola de gude?

- Sim. Depressa! O portal vai fechar a meia-noite.

Portal? Não entendendo muito o quê estava acontecendo, mas temendo estragar a situação mágica em que se encontrava, não titubeou. Girou em seus calcanhares e correu para dentro de casa.

Quando voltou era outro menino, saltitando, feliz, nada tinha de rapaz.

- Agora, chuta a bola para mim. – pediu a formiga. O menino ficou preocupado, achando que iria esmagar a pobrezinha. Mas, fez como ela havia mandado.

Na vez da formiga devolver a bola, ao invés de chutá-la de volta para o menino, chutou-a para cima.

- No três pulamos.

- Em quê? – perguntou o menino.

- Na bola, ora!

- Qual bola? Você a despachou para o alto!

- Mais atenção menino! Não vê que ela já está descendo? Um, dois, três.

- Espera, minha bola de gude caiu!

A formiga agarrou na perna da calça do menino e chutou a bola de gude para o alto. O menino, com a mão esquerda, pegou-a e guardou-a no bolso da camisa. 

E, assim, a viagem começou tranquila. 

Continua...

7 comentários:

  1. Muito obrigado pelas palavras de força em meu blog...estava mesmo precisando viu.

    Gosto muito da música Vento no Litoral que toca aqui....lembro de um grande amigo que perdi a 11 anos atrás...nossa.

    Abraços
    de luz e paz

    Hugo

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  2. Uma história encantada, ou uma fábula lírica.
    Estou amando curtir.
    Bjs.

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  3. Virei para ler o final..kkk... beijokas.

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  4. Olá,

    Estou gostando muito deste conto; Quantas vezes esperei algo e tive outra coisa?!
    Porém, ainda é cedo para dizer qualquer coisa, não é?
    Por favor não pare de escrever, ok?

    Abraços :)

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  5. Uma bela continuação para a história. Gostei da parte do perdão, é uma boa lição que nós adultos temos dificuldade em aprender, de uma vez por todas, mas chegamos lá.
    Estou aqui imaginando que viagem é esta e para que lugar mágico (?) esses dois irão.
    Imagino que muito aprontarão!
    Um abraço e bom final de semana

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  6. Obrigada por me visitar, fiquei muito feliz. Espero que volte!

    Lindo texto e esta música... que envolve. Beijo

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  7. Ótimo sua visita, vou segui-lo e acompanhar seus contos.
    Essa primeira amostra fez-me viajar. sei que vai ser bom.
    abraços

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