26 agosto 2010

A família encantada - Parte 2


Os dois se retiveram no meio do caminho, com jeito de quem lembrou de voltar para buscar algo muito importante. Cacau voltou feliz, ao ponto da própria felicidade pensar ser nele a sua morada. Ele corria saltitando, tocando os calcanhares um no outro. Mel o seguia a passos lestos.

Os dois, ao se aproximarem da bola de gude, da bola de capotão e da bicicleta, proporcionaram a esses três seres inanimados alegrias desmedidas. À bola de gude mais ainda, ao ser levada por Cacau. 

Porém, pela primeira vez, não reconheceu a mão a que estava tão acostumada. Os suores eram outros, a tremedeira descompassada não era a mesma, acusava sentimentos que ela desconhecia. A bola de gude se perguntou: em que linha da mão nossa amizade se escondeu?

O que ela não entendia era que as linhas das mãos de Cacau transpiravam outro sentimento. Sentimento esse que a bola de gude somente conheceria se tocasse as linhas das mãos de Mel.

- Toma. Ela agora é sua. – Disse Cacau a Mel, fazendo menção de entregar-lhe a bola de gude.

- Mas... – As palavras lhe fugiram.

- Esta bola me acompanhou até aqui. Um bem inestimável que lhe dou com prova da minha amizade.

Emocionada, Mel foi até a bicicleta. Como a bola de gude, a bicicleta soube de imediato que não eram  mais as mesmas mãos que a tocavam.

- Toma. É sua agora. – Mel, com doçura nas palavras, entregou a bicicleta ao Cacau.

- Não. Não posso aceitar.

- Por quê? – Perguntou Mel decepcionada com a recusa.

- Ela vale mais do que a bolinha de gude.

- Que importância tem o valor monetário quando se AM... – Cacau não a deixou terminar a frase, beijando-a nos lábios.

Ao se darem as mãos, a bola de gude foi tocada pela mão da Mel e, nesse instante, percebeu qual era o sentimento que estava aflorando das linhas da mão do Cacau. A bicicleta teve a mesma sensação quando Cacau apoiou a sua mão no selim grafitado de girassóis. Os girassóis se abriram como se aquela mão carregasse raios de sol.

As duas, juntamente com a bola de capotão, sabiam que a amizade dele por ela estava sendo substituída pelo amor. Seriam relegadas ao esquecimento. E, aconteceu como a bola de gude havia previsto: a bicicleta foi deixada em um canto da garagem misturada aos restos de ferro velho. A bola de capotão, murcha, foi enterrada em uma caixa de sapato entre outros badulaques. A pobre bola de gude teve outro, lamentável, destino: esfumou-se entre bonecas quebradas, até ser confundida com um olho de uma.

Continua...

5 comentários:

  1. O amor tem força de tranformar as coisas. Sentimento forte. O amor é tudo. Aqui, no Sul, em Nova Zelândia, não importa. O amor é poder..

    Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Muito sentimento em suas palavras!
    Obrigada por sua amizade!
    Bjs da Gena

    ResponderExcluir
  3. Oiê,

    Quando o amor aparece, muitas coisas acabam ficando para trás... com o decorrer dos anos
    acabam sendo lembradas e, algumas, retornam triunfantes...

    Abraços :)

    ResponderExcluir
  4. Obrigada pelas visitas. Não tenho conseguido concentração suficiente para ler teus textos, que me parecem escritos com muito sentimento.

    Desculpe, abraço.

    ResponderExcluir
  5. Por uma grande mancada minha descobri que ainda não estava seguindo os passos de vocês desculpe a minha falha! Volto amanhã com mais calma para colocar em dia a leitura hoje o sono já me pegou!

    ResponderExcluir

Como água e óleo se misturam, derrame aqui suas opiniões também!