18 agosto 2010

O menino encantado - Final

(Imagem: Valdinei Calvento - "Cabelo")


A máquina do tempo fez um barulho fora de tom e as imagens aceleraram até o ponto em que o menino não reconhecia mais a si mesmo. Estava maior, parecia mais velho. O coração, contudo, descompassou como criança quando viu seu sonho passando em frente a seus olhos: a bicicleta azul com aros amarelos e selim grafitado de girassóis. Exceto que... Estava sendo pedalada por uma menina.

Sem perceber, seu queixo ficou pesado como pedra e pendeu-se, aberto, enquanto olhava, não mais a bicicleta, mas aquela doce criatura que em seu selim sentava. Os cabelos cacheados, de um tom acobreado que ganhavam mais brilho com os raios de sol, a pele sardenta de quem já tomara muito sol, a regata que revelava o ombro e a sandália de couro cru que deixava seus dedinhos tão delicados à mostra.

Olhou novamente para o Senhor do tempo, começando a entender o motivo de tudo aquilo. Mas, temeroso de deixar qualquer detalhe escapar, foi com paciência que esperou que voltassem a lhe falar.

Subindo as roupas do velho, sorria a formiga, e, no caminho que percorria, dobras acima, disse-lhe assim:

- Percebe porque lhe chamamos de rapaz? Já é hora de perseguir outros objetivos. Você provou que tem o coração bom, apesar de sua teimosia inicial. Agora, persegue a bicicleta dos seus sonhos. Ela carrega a chave para o seu futuro.

Com semblante ainda confuso, com medo de deixar um pedaço seu tão importante para trás, foi com alívio que ouviu as palavras finais ditas pelo Senhor:

- Rapaz, entendo o seu medo de deixar a meninice para trás. Não tema! Vou lhe contar um segredo, uma palavra mágica, que trará grande conforto ao seu coração. Por ela, fará grandes obras, mas encontrará sempre o caminho para esse tempo encantado.

Segue o seu destino CACAU...

Ouvindo essas palavras, sua visão ficou turva, o chão começou a girar e perdeu a estabilidade. Perdeu a noção do tempo e, quando deu por si, estava deitado, melhor dizendo, caído, no chão. Abrindo os olhos, pode ver o halo do sol, quase lhe cegando, e cachos acobreados pendendo de um rosto de anjo. Será que estou no céu?

- Cacau? Cacau! Acho que ele está acordando!

A menina riu, puxou seu corpo para deitar sua cabeça em seu colo, e lhe disse assim:

- Você é o Cacau, não é? Minha mãe é muito amiga da sua, e me pediu para vir aqui na sua casa lhe mostrar minha bicicleta nova. Você queria ganhar uma dessas, não é? Vim lhe emprestar a minha, mas, quando vinha passando vi sua bola de capotão cair bem no meio de sua cabeça e você, desabando no chão. Ai, menino, que susto!

- Menino não, corrigiu ele. Rapaz. O meu nome você já sabe. E o seu, posso saber? Ainda tonto, não acreditou quando ouviu o que ele próprio havia dito.

Enrubesceu-se a menina, e respondeu assim:

- Muito prazer, Cacau. O meu nome é Mel...

E foi quando uma bolinha de gude escapou da mão esquerda daquele rapaz, e foi juntar-se à roda, aro 26, de uma certa bicicleta azul coberta de girassóis.

7 comentários:

  1. Lindo final! O menino já crescia...
    E vocês sabem de uma coisa? Mel com Cacau deve dar uma mistura bem interessante.

    Beijos em vocês.

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  2. Oiê,

    Que pena que acabou, mas acabou em grande estilo,né?
    Continue escrevendo outras estórias!
    Esta aquí você feixou com chave de ouro...
    Abraços :)

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  3. Oi, esmos aqui Eu, Ivie e Simone Cidreira,e gostamos do que vimos e lemos. espero voltar muitas vezes.
    Colocamos seu link no nossos espacos para não te perder.
    Abraços.

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  4. Passei por aqui, gostei e vou seguir.

    Abraço

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  5. Deixando meu abraço e prometo seguir direitinho seu novo conto ,oK?
    um belo sábado com abraços

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  6. Olá, gostei mt do conto!
    Bjs pra vc
    Gena

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  7. Linda fábula li inteirinha cheguei aqui quanto vocês semearam a semente e hoje já encontro um jardim parabens! Volto para ler a continuação com calma! Sobre a Lady Óleo você captou perfeitamente os traços mais marcantes de sua personalidade as maiores influência na sua criação foi as mulheres maravilhosas que ajudam a carregar o Baú! Espero sua participação na brincadeira desafio! um abraço a todos!

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Como água e óleo se misturam, derrame aqui suas opiniões também!