("A Família" - Tarsila do Amaral)
- Oi Vó! O que você está fazendo?
- Oi meu neto! Preparando seu café, ora essa! E rindo, aquela risada gostosa que sempre fora a marca registrada de Mel, continuou a prepará-lo. Vitor, seu avô está lhe preparando uma surpresa, vá lá fora para recebê-la. Vovó já vai logo atrás.
Vitor saiu da casa em direção à garagem, e encontrou um envelhecido Cacau com linha e agulha nas mãos, pelejando com uma antiga bola de capotão.
- Vô! É para mim? Correndo, pulou no colo de Cacau que rapidamente pousou a agulha longe e agradeceu a falta de sono que o fez começar a empreitada muito mais cedo naquele dia.
- É sim, Vitor! Você gosta de futebol?
- Amo, Vô! Quando eu crescer vou querer ser zagueiro!
- Ah, mas um zagueiro não nasce pronto, precisa de treino. E eu vou lhe contar um segredo: está vendo essa bola aqui? Ela é mágica. Não ria, não estou brincando, não. Existe uma formiga, mas não uma formiga qualquer, uma formiga encantada, que é guardiã de um portal mágico. Essa formiga chama-se Baba, e, se o Senhor do tempo percebe que algo precisa ser concertado, ele envia sua fiel embaixatriz para que, através dessa bola, leve quem dele precisa de ajuda até a sua presença.
Essa bola foi do seu bisavô, que por sua vez a ganhou de seu tataravô.
Olhos arregalados, Vítor encantou-se com a história de bichos, portais e magia que o avô lhe contava.
- E é minha agora, Vô?
- Só se eu puder treinar junto - para garantir que se Baba voltar, terei chance de lhe dar um abraço e agradecer por tudo que ela fez em minha vida...
- Oi pai, oi mãe! Fauser chega com sua esposa, Carolina. O café está pronto, mãe?
- Quase pronto meu amor! Oi Carol! Usou aquele vestido lindo que compramos juntas ontem à noite?
As duas mulheres entram para a cozinha, finalizando os preparativos da mesa lindamente composta para uma refeição considerada banal. Mas, naquele família, nenhum tempo passado juntos era banal.
Fauser reconhece a bola de capotão que Vítor segura em suas mãos, e, com o coração apertado, procura nos olhos do pai a confirmação do que acontecia. Em um sorriso, Cacau entrega ao filho que a mágica estava finalmente passando de mãos.
- Vô, chuta a bola para mim?
- Claro, Vítor. Mel, oh Mel você não disse que havia guardado algo, também, para dar ao Fauser?
Mel e Carol saem da casa, sorrisos, mãos carinhosas. Duas mães em sua plenitude!
Posicionada ao lado de seu grande amor da vida toda, antes de Cacau acertar o chute na bola, Mel sussurra-lhe em seu ouvido: "Menino bobo".
Cacau a olha com a ternura daqueles que muito cedo encontraram o amor de sua vida. Segura-lhe a mão, como fizera na margem do rio a primeira vez que se beijaram.
Mira na bola e acerta o chute. Mas não foi isso que surpreendeu Fauser. No momento que virou-se para exaltar a boa pontaria do pai, que ele teve a honra de poder comprovar nos muitos anos que se sucederam àquela noite encantada com Baba, viu não o senhor a quem tanto amava, mas sim um menino, de não mais de dez anos.
Ao seu lado, uma menina linda, de mãos dadas com ele, anda em direção a Fauser, e lhe rola uma bola de gude toda trincada, mas que, ao chegar em suas mãos, está redonda, polida, como nova.
Saem caminhando, lado a lado, dois jovens, enamorados, com a vida toda pela frente. A observá-los, Baba e o Senhor do tempo. Em sua forma de formiga, agarrada ao manto do Senhor do tempo, Baba pergunta o motivo de remoçá-los.
- Amor igual ao deles tem que ser revivido sempre.
- Mas eles erraram ao abandonar o filho, não se lembra? Se não fossemos nós, a história seria contada tão diferente...
- Formiga, entenda uma coisa, o acerto não advém de pensarmos que estamos acertando, mas se tivermos a humildade de reconhecer que o erro nos proporciona o aprendizado, então, estaremos no caminho certo.
Olhando para trás a formiga piscou o olho esquerdo. Cacau e Mel responderam rindo, certos de que viverão felizes para sempre.
FIM.
Isso!
ResponderExcluirSe todos os pais pudessem perceber como falham com os pequeninos a redenção seria positiva ao extremo.
Um beijo e já estou esperando a próxima "saga".
Uau, que final fantástico, todo tecido em harmonia e crença nas coisas!
ResponderExcluirAgora é hora de fruir o resultado, mas não tarda há que pensar noutra história. Valeu?
Beijo :)
Oiê,
ResponderExcluirEntão... Não podia ter sido melhor!
O verdadeiro amor rejuvenesce a gente. Seu conto terminou, mas não deixe de contar outro, ok?
Um abraços para ambos :)
Oiê!
ResponderExcluirEntão, tudo bem?
Saudade de seus contos!
Abraços :)
Olá! Nossas falhas... pelo menos tento acertar. Querida, deixei um selinho para vc em meu blog. Passe lá? Espero que goste. Bjos
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